SUPERE-SE NÃO DESANIME, SIGA O SÁBIO EXEMPLO DO SABIÁ.


            “Quem canta os seus males espanta”, desta rima já comungavam até os memoráveis trovadores do século VI antes de Cristo. De tão sublime e antiga é que virou moda e cantiga no dito popular. Mais nossa notável poetisa Cecília Meireles foi mais fundo e enfática na sua Antologia poética:


         “Eu canto, porque o instante existe;

E a minha vida está completa

Não sou alegre nem sou triste

Sou poeta...

...sei que canto, e a canção é tudo

Tem sangue eterno e asa ritmada

E um dia sei que estarei mudo

E mais nada”


            Assim somos todos embriagados pelas melodias, nos acordes de variados instrumentos. Os refinados versos declamados, ao som dos ritmados batuques açucaram nossa vida, alegram a alma e nos aquebrantam os maus espíritos.

 

            Além de tudo, é na arte da música que encontramos a chave que abre os tênues corações, que incitam apaixonados para o desabroche do amor duradouro.

 

            Era muito comum em tempos não muito distantes, os paqueradores insaciáveis na busca de sua verdadeira consorte, se utilizarem das orgias de serenatas noturnas ao som de violas e cavaquinhos, para encantarem as prediletas e cobiçadas senhoritas da burguesia, que se deleitavam em sofás às frestas das janelas, à espera do feitiço ou do feiticeiro. Não é à toa que o romancista português Almeida Garrett enfatizou em sua célebre obra Viagem na minha terra “Se for homem é poeta, se for mulher está namorada!” Pra ele eram os dois entes animais mais parecidos e pragmáticos da natureza divina.

 

            É mediante os cânticos de hinos, salmos, saltérios e canções gospel sem trejeitos que louvamos ao nosso Criador, encurtando de vez a distância para nossos agradecimentos e prestação de contas. Deus se alegra dos nossos comprazimentos naturais e espirituais. No salmo (150) lemos que todos os seres vivos devem louvar ao Senhor, a Bíblia diz que o Rei Davi se deliciava e dançava ao som de trombeta, flautas e harpas, mesmo nas maiores aflições.

 

            Assim como o uirapuru, também os pardais, e até os pequeninos rouxinóis, não carecem de instrumentos sofisticados para se alegrarem nas suas cantorias incessantes, nas alvoradas matinais. Quê dizer de nós que somos dotados de uma inteligência fenomenal. Daí, não haver razão para ficarmos tristes e desolados, como consolo as escrituras ainda pregam, que o choro poderá durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer. Mesmo nas lutas e tribulações do cotidiano ou até no exílio haveremos de louvar e dar glórias através de nossas manifestações musicais, pensamentos e menditações. Foi maravilhoso e eloquente Manuel Bandeira (O Poeta) quando em sua canção de exílio, exaltou nossa gente, flora e fauna, com o refrão: “minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá... as aves que aqui gorjeiam não cantam como lá”. O saudoso e hilariante cantor Jair Rodrigues esbanjou em seu inconfundível gênero musical coroando a majestade sabiá, em breves versos melodiosos, como mérito pelos seus silvios agudos e cadenciados.

 

            Assim também de Johann Christian Bach à Beethoven, de Vinícius à Chitãozinho, que assim não se façam distinções: Robertão, Castro Alves e a Preta Gil, são todos nossos exímios poetas, e até Camões com sua elástica poesia de Lusíadas, que muito inspirou a sobrevivência humana, e que motivam freneticamente nossa curta vida terrena. Sem que haja notadamente espaço para falar de tantos que nos premiam com esta bandeira da alegria universal, nossas indeléveis escusas por não lembrá-los.

 

            Por fim, à bem da verdade, a saúde é indispensável, o dinheiro no bolso é fundamental mas e música é o complemento de tudo, de preferência ouvida ao lado do ser amado. Não será a corrupção cruel nem a inflação galopante que vai afrontar nosso sossego. Tão só a nossa existência em longos carnavais já é motivo de sobra para nos vangloriarmos. BIS! Sabiá.

 

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